sábado, 18 de outubro de 2014

BARRIGA DE BICHA

BARRIGA DE BICHA

Não faz muito tempo, eram os tempos de rapaz e rapariga, ou melhor, eu ainda era pequeno, não miúdo, mas barrigudo.
Na verdade, chamava-se simplesmente o pançudo de amarelo, ou amarelo da goiaba, ou barriga de bicha. Ainda hoje, muitos não perderam esse costume, esse modo de falar.
Era um tempo em que, as mães levavam os filhos ao DASP-Departamento Autônomo de Saude Pública do Estado para exames, receber  e depois tomar o remédio de bicha. Sim remédio de bicha, assim era o modo de falar desse tempo e que muitos ainda por vezes vem a recordar.
Depois dos exames do material da latinha, o médico receitava o remédio de bicha, que ali mesmo era distribuído, acompanhado de um purgante para após, limpeza das tripas. O purgante, o óleo de rícino, horripilante, de dar repulsa de se tomar em jejum. Mas, não tinha churumela, a mãe insistia, tapa o nariz e toma, se não eu te empurro de guela abaixo. Sim era esse o tratamento da época.
E depois de umas semanas,  saúde estampada em todos. A rapaziada voltava a comer bem, ficavam com as caras coradas, a barriga diminuía, o amarelão desaparecia.
Hoje me veio a mente e displicentemente, entrei numa farmácia e pedi ao atendente; eu quero um remédio de bicha.
Com o olho arregalado e cara de espanto, me diz o atendente que isso é homofobia  e que é discriminação com as minorias.
E eu que não sabia o que é essa tal homofobia, fiquei com cara de tôlo, me fiz de desentendido e pedi o remédio de novo, tem remédio de bicha?
Foi então que o atendente, volta e me repreende; O Senhor está sendo agressivo, está cometendo excesso, isso pode lhe dar processo. E ainda foi mais além; não me diga que não sabia, que por aqui um dia, homen de camisola, já se chamou de maricão, viado, bicha e boiola?
Foi aí que percebi, que a linguagem viva, altera com o passar dos tempos, podendo o que hoje se diz, no amanhã ser um ato infeliz. Pois bem, logo me veio a tona, ah, esse termo ofendeu a bichona.
Com aquela sutileza, procurei explicar o termo e fui logo dizendo, que o remédio que procurava, na época se tomava em dose para lombriga ou verminose e depois como laxante, se tomava um horrível purgante.
 Boas risadas se deram sobre a compreensão da  linguagem, dita como eufemismo e de que, bicha sim tem remédio, dando fim ao episódio.
Depois que tudo acabou, logo fiquei a pensar e a recordar, que esse tal eufemismo, que leva ao humorismo, está em todo lugar.
Certa feita, estava aqui numa boa,  fui convidado à ir a Lisboa.
Eu que por aqui sou oleiro, estava com ansiedade de lá chegar, viajei todo faceiro, por ter o que mostrar.
Por aqui faço panelas e lá como oleiro, depois de fazer vários modelos, me intitulei paneleiro.
Pois não é que paneleiro, são as bichas de lá. Foi então que percebi, voltei a me complicar.

Depois de tudo entendido, aprendi que essa viagem, me fez compreender o eufemismo de  nossa linguagem.

Com o humor dos mais antigos: Quem mandou tomar remédio de bicha? rsrsrsrsrsrsrsr...kkk

Contos que conto
Quem conta um conto, aumenta um ponto  .  º
              -dito popular-                                         
Texto: Gilberto J. Machado
                   Historiador