BARRIGA
DE BICHA
Não
faz muito tempo, eram os tempos de rapaz e rapariga, ou melhor, eu ainda era
pequeno, não miúdo, mas barrigudo.
Na
verdade, chamava-se simplesmente o pançudo de amarelo, ou amarelo da goiaba, ou barriga de
bicha.
Ainda hoje, muitos não perderam esse costume, esse modo de falar.
Era
um tempo em que, as mães levavam os filhos ao DASP-Departamento Autônomo de
Saude Pública do Estado para exames, receber
e depois tomar o remédio de bicha. Sim remédio de bicha, assim era o
modo de falar desse tempo e que muitos ainda por vezes vem a recordar.
Depois
dos exames do material da latinha, o médico receitava o remédio de bicha, que
ali mesmo era distribuído, acompanhado de um purgante para após, limpeza das
tripas. O purgante, o óleo de rícino, horripilante, de dar repulsa de se tomar
em jejum. Mas, não tinha churumela, a mãe insistia, tapa o nariz e toma, se não
eu te empurro de guela abaixo. Sim era esse o tratamento da época.
E
depois de umas semanas, saúde estampada
em todos. A rapaziada voltava a comer bem, ficavam com as caras coradas, a
barriga diminuía, o amarelão desaparecia.
Hoje
me veio a mente e displicentemente, entrei numa farmácia e pedi ao atendente; eu quero um remédio de bicha.
Com
o olho arregalado e cara de espanto, me diz o atendente que isso é
homofobia e que é discriminação com as
minorias.
E
eu que não sabia o que é essa tal homofobia, fiquei com cara de tôlo, me fiz de
desentendido e pedi o remédio de novo, tem remédio de bicha?
Foi
então que o atendente, volta e me repreende; O Senhor está sendo agressivo,
está cometendo excesso, isso pode lhe dar processo. E ainda foi mais além; não me
diga que não sabia, que por aqui um dia, homen de camisola, já se chamou de
maricão, viado, bicha e boiola?
Foi
aí que percebi, que a linguagem viva, altera com o passar dos tempos, podendo o
que hoje se diz, no amanhã ser um ato infeliz. Pois bem, logo me veio a tona,
ah, esse termo ofendeu a bichona.
Com
aquela sutileza, procurei explicar o termo e fui logo dizendo, que o remédio
que procurava, na época se tomava em dose para lombriga ou verminose e depois
como laxante, se tomava um horrível purgante.
Boas risadas se deram sobre a compreensão
da linguagem, dita como eufemismo e de
que, bicha sim tem remédio, dando fim ao episódio.
Depois
que tudo acabou, logo fiquei a pensar e a recordar, que esse tal eufemismo, que
leva ao humorismo, está em todo lugar.
Certa
feita, estava aqui numa boa, fui
convidado à ir a Lisboa.
Eu
que por aqui sou oleiro, estava com ansiedade de lá chegar, viajei todo
faceiro, por ter o que mostrar.
Por
aqui faço panelas e lá como oleiro, depois de fazer vários modelos, me intitulei
paneleiro.
Pois
não é que paneleiro, são as bichas de lá. Foi então que percebi, voltei a me
complicar.
Depois
de tudo entendido, aprendi que essa viagem, me fez compreender o eufemismo de nossa linguagem.
Com o humor dos mais antigos: Quem mandou tomar
remédio de bicha? rsrsrsrsrsrsrsr...kkk
Contos
que conto
Quem conta um
conto, aumenta um ponto . º
-dito popular-
Texto:
Gilberto J. Machado
Historiador