sexta-feira, 22 de abril de 2016

PEIXE DE CARRO DE MÃO


PEIXE DE CARRO DE MÃO
 PERIPÉCIAS E MEIO DE VIDA DE PEDRO JOÃO MACHADO


PEDRO MACHADO É MACHO
Esta era a sua resposta aos que o inticavam, quando de sua volta das vendas de peixe com seu carro de mão.
Mesmo só, mas mal humorado, empurrando o carro de mão, ou na praia, as lidas com seu batelão macuco, ao perceber a presença de qualquer pessoa, resmungava baixinho, Pedro Machado é macho.

Pela manha, ainda sóbrio, vendia seus peixes normalmnte, com bom tratamento entre seus fregueses. . Anunciava a venda de peixes com uma buzina de chifre de boi. Sua buzina(berrante), era a marca do tradicional pombeiro.
 Já na volta pela tarde, bêbado, cheio de cachaça, ficava embrabecido com qualquer um que o inticasse.
Tinha o apelido de maeco e ficava enfurecido com quem  assim o chamasse.
Os que sabiam do se apelido e de sua brabeza, gritavam maeco. Daí em diante, virava farra para uns e temor a outros, pois, tirava da cintura sua faca e riscava no chão, ou em direção a quem estivesse por perto, gritando Pedro Machado é macho.

Tinha como companheiro de carro de mão e vendas de peixe, o Senhor que tinha o apelido de Parreira. Quando assim chamado, depois de umas cachaças, esbravejava ao lado do maeco e a lambança tava feita.

No caminho da Ponta de Baixo, donas de casa, fechavam as janelas da frente para não escutar, ou fazer que não escutavam os palavrões e chavões, que esbravejavam. Um dos chavões de Pedro Machado como resposta de suas provocações, dizia; “tive um caso com tua mãe agora mesmo”, Pedro Machado é macho.
E na caminhada de volta, bêbados, maeco e parreira, parreira e maeco, até chegarem ao rancho de canoa que moravam, qualquer provocação era um prato cheio,  iniciava-se uma nova lambança.

Pedro Machado, comprava peixes para venda  das pescarias de Adolfo Carlos Moreira(Dodô), Mário Estervão dos Santos(Mauro), João Machado Filho(João do Joca) seu irmão, João Machado Neto(Ninho) seu sobrinho, José João Machado(Zequinha) seu sobrinho e ainda de outras pescarias familiar.
Época em que a Ponta de Baixo era destacada pelas olarias de louças de barro e pescarias com lanchas baleeiras, canoas de garapuvu bordadas e boas canoas à remo e a vela.
Pedro Machado e Parreira, faziam o trajeto com seus carros de mão cheios de peixes, desde a praia de baixo onde terminava o caminho no lugar chamado Capão, passando pela praia de cima, Morro da Cruz, rua do Fogo, Praça de São José e Praia Comprida.
Dependendo do tipo de peixe, rumavam até Forquilhas e Potecas, ou entravam por Picadas e Fazenda do Max em direção ao Sertão do Marui e chegavam até Colonia Sant’Ana. Nessas localidades, vendiam muitas cardosas, cocorocas, outras variedades de menor valor e tiras de arraia.

Embora sendo do lugar, não vendia  peixes para todos na Ponta de Baixo. Tinha lá suas manias, seu humor intepestivo. Fazia-se de surdo, não escutava,  mesmo sendo chamado, não parava o carro e seguia em frente.
Essa sua atitude, indignava muitos moradores e, filhos de alguns desses,  o esperavam na sua volta para inticar com o maeco, provocando farra e lambança no caminho e em frente das casas.

Certa feita, um Oleiro de tradição e muito cheio de graça, vendo o Pedro Machado, que passava com o carro cheio de peixes, o chamou para comprar. O maeco cheio de birra e mal humor, nem deu ouvidos e seguiu em frente e não vendeu-lhe o peixe.
A tarde, na sua volta, Pedro Machado, bêbado, ainda parou na frenete da olaria e remungou para o Oleiro; Pedro Machado é macho e não vende peixe pra gente da Ponta de Baixo.
Então, o Oleiro, desceu da roda de oleiro que estava a trabalhar, encheu as mãos de lama(barbotina) do barro de trabalhar, saiu a rua e foi de encontro ao maeco e lambuzou toda a sua cabeça com aquela goma de barro.

No dia seguinte, Pedro Machado com o carro cheio de peixes, parou em frente da olaria e entregou ao Oleiro, um bonito cambulhão de peixes. Esse gesto de bondade, surpreendeu a todos, inclusive pelo seu bom humor.
Sabe-se que em outros desentendimentos com fregueses, Pedro Machado, agiu da mesma forma no dia seguinte, revelando sua maneira de agradar , depois de seu ato inesperado do dia anterior.

Entre os moradores mais antigos da Praça de São José, Praia Comprida, até aos caminhos de Picadas, Forquilhas, Potecas e Colonia Sant’Ana, ainda há quem lembre das peripécias dos personagens Pedro Machado e Parreira, vendedores de peixes de carro de mão(pombeiros).

Virtudes
-Em todas essas histórias de faca e ameaças, não há relato de alguém que por sua faca tenha sido ferido.
-Em todas as pescarias e seus fornecedores de peixes, não há relatos de dívidas pendentes, deixadas por Pedro Machado.
-Seus bolsos sempre cheios de dinheiro, sóbrio ou bêbado, não há relatos que tenha sido assaltado.
Costumes
-Comia a base de peixe e farinha de mandioca. Fazia o pirão com água fria(jacuba). Ccom o peixe na frigideira, comia o lado frito  enquanto o outro lado fritava.
-Não usava calçados, sempre de pés no chão, descalço.

ORIGENS

Pedro João Machado(1905-1983), um homen solitário, pescador de caniço, camarada de rede embarcada para cerco, vendedor de peixes de carro de mão.
Tinha como seu maior patrimônio, um batelão de garapuvu, penso de um lado e difícil de se equilibrar, quando no mar. Ao batelão, deu o nome de macuco, que ficou muito conhecido, por ser sua cama de dormir no rancho de canoa que morava.
Tem origens da família de João Machado, que moravam no lugar conhecido por massambaba, Ponta dos Machados, depois Canto na Costeira da Ponta, atual Ponta de Baixo.
Ao lugar chegava-se por um caminho dentro da própria área dos Machados, que leva ao canto da praiazinha entre pedras de acesso ao costão.
A massambaba, tinha uma pequena área rasante alagada e pedregosa areada, constituída de mangue, uma lagoa com capim ligada ao mar. A lagoa, ficava muito funda com marés cheias, dificultando a passagem para o costão. Era um criatório natural da fauna marinha e habitat de espécies como pequenos jacarés, lontras e paragem de aves como o mergulhão, gaivotas, garças e 30 réis...
A massambaba, também era conhecida como cercado dos Machados, intriguentos com vizinhos, família de briguentos entre si e com facas que riscavam na praia. Eram exímios pescadores de caniço,  de fisga e espinhel. No cercado, só entravam os conhecidos para comprar peixes. Extranhos eram recebidos a distância e de faca na cintura e facão nas mãos.

João Machado, o patriarca, de origem açoriana, apossou-se do lugar em meados do século XIX, entre alguns descendentes da miscigenação de índios carijós, que ali viviam. Bígamo, mantinha famílias em casas separadas no mesmo cedrcadoe e teve vários filhos.
Pedro João Machado(filho), viveu num rancho de estuque, que pertencia ao terreno dos Machados, no lugar agora chamado de Canto, por ser o canto, o final da praiazinha que dava acesso ao costão.
Em meados do século XX, João Machado Filho(João do Jóca) seu irmão, vendeu a área para a família Bonassis, hoje pertencente a família Ávila, que exterminou a natureza do lugar. A outra parte da área, hoje pertence a família Koerich.

A partir de então, Pedro Machado, pegou suas tralhas e o batelão e foi morar com seu sobrinho João Machado Neto(Ninho). Desavença entre tio e sobrinho, sobrinho e tio, o levou a voltar para o rancho do Canto por mais uns tempos.
De meados dos anos 60 ao final dos anos 70, foi acolhido pelo Senhor Acácio Moreira, que ofertou-lhe seu rancho de pesca para morar.
Pedro Machado, o vendedor de peixes de carro de mão, assim viveu, tendo como sua  cama o batelão macuco, num rancho de canoa.
Veio a falecer, em consequência de atropelamento com seu carro de mão, por um veículo 
no caminho de cima, que dá acesso a antiga Ponte do Imaruy.

Glossário
Pombeiro vem de quimbundo pumbelu,  origem Africana - Comerciante que percorre sertões. Aquele que pombeia, vendedor ambulante.
Regional do Nordeste do Brasil – Revendedor de peixe que compra nas jangadas para vender a retalho.
No litoral de Santa Catarina – Revendedor de peixe que compra nas pescarias e canoas para vender em cambulhão(peixes em porções, enfiados em imbira de bananeira ou cipó). Com a chegada das balanças, adotou-se a venda por kg.
Massambaba vem do tupi-guarani, espécie de restinga(portugues), bioma.
 Pombeiro vem de quimbundo pumbelu,  origem Africana - Comerciante que percorr aas balanças, adotou-se a venda por kg.
 Pombeiro vem de quimbundo pumbelu,  origem Africana - Comerciante que percorre sertões. Aquele que po
Contos que conto
Quem conta um conto, aumenta um ponto  .  º
              -dito popular-                                         
Texto: Gilberto J. Machado
                   Historiador