SOBREVIVENTES
Três das cinco palmeiras que sobrevivem em São José. De início, eram 12 árvores desse tipo
Foto: Carlos Pereira
Três das cinco palmeiras que sobrevivem em São José. De início, eram 12 árvores desse tipo
Foto: Carlos Pereira
Palmeiras centenárias em São José
Árvores foram trazidas do Rio de Janeiro para
ornamentar a praça principal do município. Cinco exemplares ainda estão no
local
Carlito Costa
No início
do século 20, o centro histórico de São José ainda exibia uma configuração
típica das primeiras povoações de colonização açoriana da região de
Florianópolis. Junto ao trapiche onde aportaram os barcos que haviam trazido os
182 casais de imigrantes, 150 anos antes, havia um campo aberto que subia da
praia até a Igreja Matriz, rodeado por outros prédios ainda encontrados no
local, como os da antiga cadeia e Câmara de Vereadores e o Teatro Adolfo Melo.
Um projeto de urbanização do local foi iniciado há 100 anos, com o plantio de
12 palmeiras régias trazidas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Cinco das 12 palmeiras originais sobrevivem ainda hoje na praça Arnoldo Souza. A história dessas árvores agora centenárias está sendo recuperada por Osni Antônio Machado, funcionário da Secretaria de Estado da Agricultura que se dedica desde 1979 a reunir documentos sobre a memória de São José. Osni tem dois livros prontos, aguardando uma oportunidade de publicação, sobre o poder político municipal ao longo dos 253 anos de existência do antigo povoado de São José da Terra Firme. "Infelizmente muidos documentos importantes do arquivo da prefeitura se perderam, por causa da falta de cuidado com a conservação desse material", lamenta Osni.
A ubanização do espaço hoje ocupado pelas praças contíguas Hercílio Luz (em frente à Igreja Matriz) e Arnoldo Souza (em frente à Câmara de Vereadores) começou em 1903. O então superintendente do município (cargo equivalente ao de prefeito na época) era José Vicente de Carvalho Filho. Militar aposentado, Carvalho Filho nasceu no Piauí e veio para o Sul do Brasil para lutar na Guerra do Paraguai. Passado o conflito, permaneceu no litoral de Santa Catarina como professor de primeiras letras. Lecionou em Araquari (Norte do Estado), na Lagoa da Conceição, em Barreiros e na Ponte do Imaruim, até se radicar no centro de São José, onde tornou-se um dos políticos mais importantes da cidade. O início do projeto de urbanização do centro histórico foi um de seus principais legados como superintendente.
Cinco das 12 palmeiras originais sobrevivem ainda hoje na praça Arnoldo Souza. A história dessas árvores agora centenárias está sendo recuperada por Osni Antônio Machado, funcionário da Secretaria de Estado da Agricultura que se dedica desde 1979 a reunir documentos sobre a memória de São José. Osni tem dois livros prontos, aguardando uma oportunidade de publicação, sobre o poder político municipal ao longo dos 253 anos de existência do antigo povoado de São José da Terra Firme. "Infelizmente muidos documentos importantes do arquivo da prefeitura se perderam, por causa da falta de cuidado com a conservação desse material", lamenta Osni.
A ubanização do espaço hoje ocupado pelas praças contíguas Hercílio Luz (em frente à Igreja Matriz) e Arnoldo Souza (em frente à Câmara de Vereadores) começou em 1903. O então superintendente do município (cargo equivalente ao de prefeito na época) era José Vicente de Carvalho Filho. Militar aposentado, Carvalho Filho nasceu no Piauí e veio para o Sul do Brasil para lutar na Guerra do Paraguai. Passado o conflito, permaneceu no litoral de Santa Catarina como professor de primeiras letras. Lecionou em Araquari (Norte do Estado), na Lagoa da Conceição, em Barreiros e na Ponte do Imaruim, até se radicar no centro de São José, onde tornou-se um dos políticos mais importantes da cidade. O início do projeto de urbanização do centro histórico foi um de seus principais legados como superintendente.
REVOLUÇÃO
Palmeira levou um tiro de canhão em 1930 Foto: Reprodução Carlos Pereira |
PATRIMÔNIO
Osni Antônio Machado, pesquisador Foto: Carlos Pereira |
PRESENTE
As
palmeiras foram doadas à cidade pelo senador catarinense Vitorino de Paula
Ramos, nascido na região. As plantas são descendentes das primeiras palmeiras
régias plantadas quando da criação do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, por
ocasião do deslocamento para o Brasil da corte real portuguesa, em 1808. Em 12
mudas já com cerca de um metro de altura, um tamanho considerado
"perigoso" por cronistas da época, já que nessa idade as palmeiras
tinham que ser transportadas com muito cuidado, para não serem danificadas.
As 12 árvores suportaram bem a viagem desde o Rio de Janeiro, no entanto, e foram trasnplantadas com sucesso em duas filas partindo da praia em direção à Igreja Matriz. A primeira delas foi plantada solenemente por outro político importante da época, o coronel Caetano Xavier Neves, filho do igualmente ilustre coronel Joaquim Xavier Neves. A casa da família nas cercanias da praça, que em certa ocasião hospedou o imperador d. Pedro II, está sendo restaurada pelo atual proprietário, segundo os padrões arquitetônicos do tempo do Segundo Reinado.
As palmeiras foram a única alteração no campo aberto do centro do município até 1920, quando efetivamente teve início um projeto de urbanização. Nesse ano foi construído um jardim e feita a geometrização atual das duas praças, com delimitação das ruas. As obras de reordenamento urbano do local exigiram no entanto o deslocamento e replantio de cinco das palmeiras régias originais. Transplantadas depois de muito crescidas, as árvores acabaram não resistindo e morrendo pouco depois, restando sete árvores.
Outras baixas tiveram origem na revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à presidênca da República, depondo Washington Luís. Os revolucionários assumiram o controle de São José em outubro e se entrincheiraram no centro da cidade. As forças legalistas da Marinha posicionaram na Baía Sul o destróier Santa Catarina, que bombardeou a cidade - uma das contruções no local, que hoje abriga a Casa de Cultura Estácio de Sá, ainda mantém numa das sacadas o estrago feito por um dos tiros disparados do navio.
Uma bala de canhão atingiu em cheio uma das palmeiras imperiais, que tombou. Uma granada explodiu perto de outra das árvores e um estilhaço atravessou o tronco, provocando um buraco que permaneceu como atração turística durante 56 anos. Em fevereiro de 1997, a mesma árvore foi acometida de uma doença e teve que ser derrubada pela Prefeitura de São José. A derrubada da palmeira régia causou polêmica entre a população local na época, já que parte do patrimônio histórico do município estava sendo levado ao chão. Com a perda dessa árvore, restam como sobreviventes as cinco que estão hoje no centro histórico.
A manutenção das palmeiras centenárias está atualmente a cargo da secretaria de Obras de São José. Para Osni, há muito descuido. "Eles fazem de vez em quando um trabalho de limpeza no local, mas não há um cuidado especial com as árvores", relata. "Cabos da iluminação de Natal ainda não foram retirados, placas são pregadas nos troncos, há pregos enferrujados cravados nas palmeiras". O diretor de Obras da prefeitura, Laudioni dal Pont, reconhece que não há um traballho específico de manutenção das palmeiras imperiais. "Temos uma equipe que cuida da limpeza e jardinagem, mas esse trabalho específico com as árvores é algo importante que infelizmente ainda não fizemos", diz dal Pont.
As 12 árvores suportaram bem a viagem desde o Rio de Janeiro, no entanto, e foram trasnplantadas com sucesso em duas filas partindo da praia em direção à Igreja Matriz. A primeira delas foi plantada solenemente por outro político importante da época, o coronel Caetano Xavier Neves, filho do igualmente ilustre coronel Joaquim Xavier Neves. A casa da família nas cercanias da praça, que em certa ocasião hospedou o imperador d. Pedro II, está sendo restaurada pelo atual proprietário, segundo os padrões arquitetônicos do tempo do Segundo Reinado.
As palmeiras foram a única alteração no campo aberto do centro do município até 1920, quando efetivamente teve início um projeto de urbanização. Nesse ano foi construído um jardim e feita a geometrização atual das duas praças, com delimitação das ruas. As obras de reordenamento urbano do local exigiram no entanto o deslocamento e replantio de cinco das palmeiras régias originais. Transplantadas depois de muito crescidas, as árvores acabaram não resistindo e morrendo pouco depois, restando sete árvores.
Outras baixas tiveram origem na revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à presidênca da República, depondo Washington Luís. Os revolucionários assumiram o controle de São José em outubro e se entrincheiraram no centro da cidade. As forças legalistas da Marinha posicionaram na Baía Sul o destróier Santa Catarina, que bombardeou a cidade - uma das contruções no local, que hoje abriga a Casa de Cultura Estácio de Sá, ainda mantém numa das sacadas o estrago feito por um dos tiros disparados do navio.
Uma bala de canhão atingiu em cheio uma das palmeiras imperiais, que tombou. Uma granada explodiu perto de outra das árvores e um estilhaço atravessou o tronco, provocando um buraco que permaneceu como atração turística durante 56 anos. Em fevereiro de 1997, a mesma árvore foi acometida de uma doença e teve que ser derrubada pela Prefeitura de São José. A derrubada da palmeira régia causou polêmica entre a população local na época, já que parte do patrimônio histórico do município estava sendo levado ao chão. Com a perda dessa árvore, restam como sobreviventes as cinco que estão hoje no centro histórico.
A manutenção das palmeiras centenárias está atualmente a cargo da secretaria de Obras de São José. Para Osni, há muito descuido. "Eles fazem de vez em quando um trabalho de limpeza no local, mas não há um cuidado especial com as árvores", relata. "Cabos da iluminação de Natal ainda não foram retirados, placas são pregadas nos troncos, há pregos enferrujados cravados nas palmeiras". O diretor de Obras da prefeitura, Laudioni dal Pont, reconhece que não há um traballho específico de manutenção das palmeiras imperiais. "Temos uma equipe que cuida da limpeza e jardinagem, mas esse trabalho específico com as árvores é algo importante que infelizmente ainda não fizemos", diz dal Pont.
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