GUARDA DO EMBAU
&
RIO EMBAU & RIO DA MADRE
Distrito de Enseada de Brito – Palhoça,SC
Vamos conhecer um porco da história do Rio Embau, a partir do século XIX com a chegada dos colonizadores luso-açorianos
circunvizinhos ao rio. Primiramente, vamos saber do porque Embau.
Embau
é de origem tupi-guarani, linguagem falada pelos índios carijós, que habitavam
o litoral de Santa Catarina. Na tradução para a língua portuguesa, Embu
significa; rio oco, vazio, seco,diferente.
Fonte:
Mini dicionário tupi-guarani
O
Embau nasce entre pedras em formato de pilões, num chapadão do Parque Estadual
da Serra do Tabuleiro, no município de Palhoça, local em que forma um divisor
de águas com o município de São Bonifácio.
A
partir da formação de suas águas de serra abaixo em direção ao mar, recebe águas
de várias nascentes, que formam diversos riachos, que desaguam no seu curso,
entre eles, o Rio Paulo Lopes.
Guarda,
um lugar para se guardar, cuidar, proteger. O nome Guarda do Embau tem origem
no local de depósito dos produtos produzidos pelos lavradores da Gamboa e
circunvizinos do Rio Embau. Entre os produtos, destacavam-se os derivados da
mandioca e dos engenhos de farinha(farinha de mandioca, cuscuz, bejú, etc....,),
de cana-de-açúcar e dos engenhos de cana-de-açúcar(açúcar grosso, melado,
etc..,), alambiques de cachaça(cachaças de garapa ou melado da cana-de-açúcar).
Esse
depósito, localizáva-se nas proximidades da barra do rio e de um riacho não
navegável, que desaguava no mar da Pinheira.
Embarcações
da Villa de São José da Terra Firme, traziam louças de barro, como o pote para água,
o alguidar, panelas, boião, pichorras,
pratos de se comer, cuscuzeiros, torrador de café e outras variedades de peças,
para venda ou escambo(troca) com os produtos desses lavradores.
No
princípio, esses produtos eram levados de canoas de garapuvu, até o depósito de
guarda, depois carregados por carros de tração pessoal e de bois, até a praia
da Pinheira. Depois, embarcados em hiates(botes) à remos e velas, ou lanchas baleeiras,
para venda na Enseada de Brito, Villa de São José da Terra Firme e cidade de
Desterro.
Mas,
essa forma de transporte fluvial e baldeação por terra, encarecia muito os
produtos. Então, os lavradores encontraram a alternativa de se propor a abrir
um canal de navegação até a praia da Pinheira, através de um córrego, uma vala
já existente, que desaguava do Embau na
enseada do mar da Pinheira.
Vamos conhecer a
história do Canal da Independência
Em 1841, Cidade de Desterro.
Presidente da Província de Santa Catarina, Brigadeiro Antero Jozé Ferreira de Brito.
Através
das Leis Provincial n. 17 e 36, atendendo reclames dos moradores lavradores circuvizinos
das margens do rio Embahú, autoriza a abertura de um canal entre rio e o mar da
Pinheira.
A
barra do rio que sempre obstruída, provocava inundações constantes, além de
alterar o seu curso natural. De comun acordo entre os moradores, a abertura
seria feita pelos próprios moradores, com início no dia 7 de setembro, tendo a
denominação de Canal da Indepência.
Iniciou-se
com efeito a obra, mas pelas mãos de uma Tropa Militar que por ali passava, já
que grande parte dos moradores excusaram-se do compromisso, em função das lidas
com suas lavouras.
Mesmo
assim, o cidadão Joaquim Jozé da Costa, destacou-se voluntarioso em atrair os
moradores que se propusessem a participar dos trabalhos.
Ficou
acordado que, os moradores que não participassem dos trabalhos e outros que depois
da conclusão dos trabalhos, viessem a utilizar o canal, uma taxa seria cobrada.
Em
1842, os trabalhos de abertura do Canal da Independência continuam sem
prejuízos para os cofres Público, com a expectativa de breve conclusão.
Falla
que o presidente da provincia de Santa Catharina, o marechal de campo graduado
Antero Jozé Ferreira de Brito, dirigio á Assemblea Legislativa da mesma
provincia na abertura da sua sessão ordinaria em o 1.o de março de 1842. Cidade
de Desterro, Typ. Provincial, 1842.
Em
1843, o Presidente da Província, relata na Assembleia Legislativa, a morosidade
da abertura do Canal da Independência, em virtude da falta de compromisso de
grande parte dos moradores, embora contando com a expressiva colaboração do
cidadão Joaquim José da Costa em atrair colonos de suas lavouras nos trabalhos
volunbtários.
Falla
que o presidente da provincia de Santa Catharina, o marechal de campo Antero
Jozé Ferreira de Brito, dirigio á Assemblea Legislativa da mesma provincia na
abertura da sua sessão ordinaria, em o 1.o de março de 1843. Cidade do
Desterro, Typ. Provincial, 1843.
Em
1844, ainda se trabalha no Canal da Independência para o aperfeiçoar e tenho a
satisfação de informar-vos que estão desvanecidos os receios que alguns
entretinham, de que, as águas do Embau nunca tomariam a direção da Enseada
Pinheira.
Isto
se verificou e eu vi canoas carregadas navegando pelo canal em direção a barra,
mas como na ocasião em que elle se franqueou, estava o rio em demazia caudaloso
com as águas das chuvas, não bastou o canal para dar-lhes saída e houve
transbordamento para o mar grosso, ficando em parte seco o canal.
Acudiram
então os moradores ao ativo cidadão Joaquim Jozé da Costa, para fazerem os
trabalhos conducentes e impedirem a repetição desses transtornos, mas não o
puderam concluir nesse tempo e eu mesmo os fiz despedir, não só pelas copiosas
chuvas que então caíram, mas também pela carestia de mantimentos, que não havia
como sustentar os trabalhadores.
Para
que este último obstáculo não volte a aparecer, porque esta obra tem sido
levada ao ponto que está, sem dispêndio dos cofres públicos, proponho que no
Orçamento seja consignado a importância de quinhentos mil reis.
Falla
que o presidente da provincia de Santa Catharina, o marechal de campo Antero
Jozé Ferreira de Brito, dirigio á Assembléa Legislativa da mesma provincia na
abertura da sua sessão
ordinaria, em o 1.o de março de 1844. Cidade do Desterro
Em
1845, ainda tem-se por vezes trabalhado no Canal da Independência para deixá-lo
mais largo e profundo na sua extensão
de aproximadamente oitocentas braças(1.760,00m). Continua a sair e
entrar por ele, canoas carregadas.
Preciso
de auxílio financeiro para esta obra no exercício futuro de duzentos mil reis,
unicamente para comestíveis, compra e conserto de ferramentas.
Em
1846, ainda continuam os trabalhos no Canal da Independencia, embora com excassez
de recuros e de mão de obra voluntária dos moradores, matém esperanças de breve
conclusão, diz o President da Província na fala à Assembléia Legislativa.
“Falla que o
presidente da provincia de Santa Catharina, o marechal de campo Antero José
Ferreira de Brito dirigio á Assemblea Legislativa da mesma provincia no acto
da abertura de sua sessão ordinaria em o 1.o de março de 1846. Cidade do
Desterro”.
De
1847 à 1853, o Canal da Independência, não mais é mencionado nos relatórios
de obras à Assembléia Legislativa pelos Presidentes da Província.
Atribui-se a não menção em virtude da não
liberação dos recursos previstos para manutençã do canal, durante as transições do Presidente Interino e depois ao sucessor
indicado pelo Governo Imperial, Doutor João José Coutinho.
Em
1854, após axames de avaliação, a Presidencia da Província, admite a viabilidade
do Canal da Independência,
aprovado por seu antecessor, obra que está bastante adiantada, podendo ser
concluido com mais ou mesnos um ano de trabalho.
Se
não para navegação de hiates(botes), pelo menos para canoas. Isso porque, os
lavradores que levam seus produtos pelo rio Embau com canoas, tem que depois,
fazer a baldeação para carros e chegar até a praia da Pinheira, tornando-se
muito dispendioso.
O
uso de canoas pelos lavradores da Gamboa e vizinhos dos rios da Madre e Paulo
Lopes, seria de muita comodidade a todos, assim determinou o Presidente.
Sendo
assim, é justo que eles façam a obra e a Província oferece as ferramentas e
uma ração diaria de carne para cada pessoa.
Mesmo assim, como
nem todos tem o mesmo brio e bom senso, para prestar boa vontade a serviço de
seus interesses, preciso é que por Lei, os obrigue a prestar três dias de
trabalho por mês, até a conclusão da obra.
Excetuam-se da Lei,
menores de 12 anos e maiores de 70, alejados ou inteiramente incapazes por
enfermidades psíquicas ou mental de qualquer serviço, impondo-se multas, que
a pagarão na cadeia se não satisfizerem em 24 horas, podendo fazer-se
substituir por outro bom trabalhador, aquele que nisso tiver interesse.
Assim
determinou o Presidente da Província de Santa Catharina.
Relatorio
do presidente da provincia de Santa Catharina em 19 de abril de 1854. Pg.33
Em
1855, com esta Lei em vigência, o Canal da Independência foi mantido
navegável por mais de um século.
Até
inícios dos anos sessenta do século XX, o escoamento de produtos produzidos
pelos colonos da Gamboa e circunvizinhos do Rio Emabu, teve passagem por
essse canal em canoas carregadas, que chegavam a praia do mar da Pinheira.
Esse testemunho é lembrado pelo Senhor Ari Thomé de
Souza (é1914)
e sua mulher Dona Feliciana de Souza(é1929),
nativos e moradores da localidade de Guarda do Embau.
RIO DA MADRE
Em 1854, o nome Rio da Madre, que é
o mesmo Rio Embau é citado em documento Provincial.
Em
1848, com a conclusão da estrada do Morro dos Cavallos e a instalação de
barreira no Passo do Massiambu, os melhoramentos e a construção da estrada do
litoral, seguem rumo a Província de São Pedro(RS).
A
partir de 1849, em substituição a frágil ponte de madeira, chamada por muitos
de pinguela, a nova travessia do Rio Embau, começa a receber as grandes
madres(vigas) de madeira começam a ser apoiadas nos robustos pilares(colunas)
de madedira, na construção da importante ponte, que depois será batizada de
Ponte do Rio da Madre.
Em
1850, conjectura-se que depois de pronta, o empreiteiro constratado e os trabalhadores, a batizaram
com o nome de Ponte do Rio da Madre. Logo depois do batismo, popularizou-se o
chamado Rio da Madre, vindo a ser mencionada em documento oficial em 1854.
Com
a implantação da BR-101 na década dos anos 70 do século XX, uma nova ponte de
concreto armado, e novo traçado da BR, foi construída no Rio Emabu.
A
velha ponte de madeira do Rio da Madre, foi desativada, servindo apenas aos
transeuntes do lugar. Logo depois, por falta de manutenção, desmoronou-se pela
ação das águas do Embau. Desde então, é chamada pelos moradores da localidade
de ponte quebrada.
Desde
então, a ponte da BR-101, duplicada em 2011/2012 no Rio Embau é conhecida como a Ponte do Rio da Madre.
Glossário
Braça – unidade de medida de braços abertos,
equivalente a 2,2 m.
Massiambu – rio da barra, foz do regato, vem de uma junção de
interpretações da línguagem
tupi-guarani, indígenas da tribo, que habitavam o litoral de Santa Catarina.
gamboa
gam.bo.a -
Trecho de
rio em que as águas remansam, dando a aparência de lago tranquilo; camboa.
CONTOS
QUE CONTO
Quem conta um conto,
aumenta um ponto . º
-dito popular-
Texto: Gilberto J.
Machado
Historiador
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